Congresso Apat 2024 em Torres Vedras- Análise do setor: perspetivas e resiliência

O recente Congresso Apat (Associação dos Transitários de Portugal) realizado em Torres Vedras foi um evento que proporcionou aos profissionais do setor transitário de Portugal informação de grande interesse sobre um presente em processo de transformação e todos os desafios que isso está a acarretar. Foi, ainda, um espaço para refletir sobre os resultados do último Barómetro de Atividade Transitária, para delinear soluções e estratégias que permitam aos empresários do transporte adaptarem-se a um mercado competitivo em meio às disrupções globais.

O sentimento dos associados da Apat em relação à atividade das empresas de transporte de mercadorias baseia-se num estudo realizado em setembro e outubro de 2024, que mede a confiança, os planos de investimento e os fatores disruptivos.

Primeira constatação: índices de confiança baixos

É necessário começar por um dos pontos mais destacados de todo o barómetro: os índices de confiança no setor dos transitários caíram abaixo dos níveis pré-pandemia, atingindo o valor mais baixo dos últimos cinco anos. Isto representa uma mudança significativa em relação ao período 2021-2023, durante o qual houve uma recuperação da confiança e, consequentemente, uma maior valorização do papel dos transitários. Durante esses anos, o setor parecia mostrar um elevado nível de otimismo, possivelmente devido à recuperação e adaptação após o impacto inicial da pandemia, o que impulsionou a relevância dos serviços de transporte e logística. No entanto, a situação atual parece refletir uma tendência inversa, com desafios que minaram a perceção positiva do setor.

Perspetivas mistas em relação ao futuro

O relatório revela que, embora a perspetiva a três anos para o setor transitário continue maioritariamente positiva, esta é menos otimista em comparação com a perspetiva a curto prazo. Isto sugere que, se por um lado os profissionais do setor mantêm uma visão favorável a médio prazo, por outro, existe uma tendência para a cautela nas projeções de longo prazo. Os transitários parecem reconhecer possíveis desafios futuros ou fatores de incerteza na atualidade, o que os leva a moderar as expectativas para o período mais distante, adotando uma postura prudente nas projeções a longo prazo.

Setor transitário: desafios e oportunidades

O índice NPS (Net Promoter Score) revelou uma autoavaliação preocupante: apenas 11% dos inquiridos recomendariam uma carreira no setor transitário, o que é claramente simbólico no que respeita à perceção de instabilidade e imprevisibilidade. Esta perceção foi intensamente debatida no congresso, onde se propuseram ações para tornar o setor mais atrativo e sustentável.

Investimento em sustentabilidade e tecnologia: Chaves para o futuro

Certamente, um dos pontos mais encorajadores é a crescente inclinação resiliente para investir em tecnologia e sustentabilidade. Com 64% dos transitários dispostos a fazer esforços em sustentabilidade e 70% em novas tecnologias, o setor demonstra um compromisso com a transição para práticas mais responsáveis. No congresso, discutiu-se como esses investimentos não apenas ajudarão a cumprir com as regulamentações ambientais cada vez mais exigentes, mas também a melhorar a eficiência operacional.

Preocupações, fatores disruptivos e um alívio

O relatório indica que o fator mercado é o elemento de disrupção mais intenso para o setor transitário. Entre os aspetos específicos, as práticas dos grandes atores marítimos são vistas como a maior ameaça, pois afetam diretamente as condições de mercado e a competitividade.

Ademais, a situação económica é outra das principais preocupações dos transitários. As incertezas económicas geram uma atmosfera de cautela e preocupação, uma vez que impactam na estabilidade e crescimento do setor.

Existe, por outro lado, uma grande preocupação com a falta de mão de obra e o aumento dos custos em comparação com 2023, refletindo assim uma crescente inquietação no setor por esses fatores operacionais que são essenciais para o funcionamento saudável. Contudo, verificou-se uma estabilização do mercado de transporte marítimo (shipping), o que veio aliviar consideravelmente a tensão disruptiva (para 81% dos inquiridos). Isto sugere que, apesar da persistência dos desafios, uma maior estabilidade no shipping está a proporcionar algum alívio aos transitários.

Conclusões principais

  • Perspetiva do setor em deterioração: As expectativas a curto e médio prazo para o setor transitário deterioraram-se, sendo a perspetiva a médio prazo a mais baixa desde 2019. Isto reflete uma crescente preocupação com os desafios futuros no setor.
  • Deterioração do Net Promoter Score (NPS): O NPS piorou em comparação com os últimos três anos, indicando um aumento na insatisfação entre os profissionais da indústria.
  • Fatores disruptivos e competitivos: As práticas das grandes companhias marítimas são percebidas como as mais disruptivas e competitivas. Embora esses fatores continuem a ser uma ameaça, observou-se uma desaceleração no seu impacto em 2024.
  • Perspetiva de investimento cautelosa mas constante: Apesar da cautela generalizada, os transitários mantêm ou até aumentam os seus planos de investimento, demonstrando um compromisso com o crescimento futuro.
  • Compromisso com a sustentabilidade e digitalização: Os transitários estão alinhados com objetivos de sustentabilidade e digitalização, mostrando uma adaptação às tendências e exigências atuais no que diz respeito a tecnologia e práticas responsáveis.

Plataforma para a mudança

Em síntese, o Congresso APAT 2024 em Torres Vedras serviu como um cenário ideal para que os líderes do setor refletissem sobre os dados do Barómetro da Atividade Transitária e trabalhassem em conjunto para encontrar soluções para os problemas mais urgentes. As recomendações e soluções apresentadas oferecem uma folha de rota que, se seguida, permitirá aos transitários enfrentar com sucesso as incertezas futuras.

Por fim, o congresso reforçou a importância da inovação e da colaboração, tanto ao nível da tecnologia como da sustentabilidade, para garantir que o setor transitário continue a ser competitivo, resiliente e atrativo para a próxima geração de profissionais.