A crise provocada pelo coronavírus afetou o mundo inteiro e o setor do transporte não foi exceção. Analisando a atividade na bolsa de cargas da Wtransnet como indicador macroeconómico, encontram-se alguns dados relevantes que destacam o impacto da COVID-19 nos fluxos de transporte rodoviário de mercadorias.
Desde o início da crise do coronavírus em Portugal, a atividade na bolsa de cargas da Wtransnet, que faz parte do Grupo Alpega, decorreu em conformidade com o que acontecia no país e na Europa, sendo aplicadas medidas restritivas que afetaram o transporte rodoviário de mercadorias. Um contexto muito particular em que, apesar das restrições, não se registou uma descida brusca do fluxo de mercadorias, ao contrário do que seria previsível.
Mas passemos aos dados, o primeiro que chama a atenção é que, ao comparar o número de ofertas de cargas tendo como origem e/ou destino Portugal publicadas com as de 2019, vemos que no início os números são muito parecidos, mas a partir da semana onze (que coincide com a entrada em vigor do estado de alerta, assim como com a declaração do estado de alarme em Espanha), detetam-se na plataforma mais 44% de ofertas de carga do que em 2019.
Desde esse momento, e à medida que os acontecimentos se sucederam em todo o continente devido à pandemia, as ofertas de cargas foram descendo, ao passo que, como é habitual em períodos em que este parâmetro é menor, aumenta consideravelmente a oferta de veículos. Neste segundo cenário, o pico máximo ocorre na semana treze, sendo que o negativo coincide com a Semana Santa.
Uma base a partir da qual se constatou uma demarcação em força, coincidindo com o recomeço paulatino da atividade produtiva. Deste modo, está a ocorrer uma viragem tanto na oferta de cargas como de veículos que, se deverá confirmar nas próximas semanas, em linha com a melhoria progressiva geral e a abertura dos diferentes intervenientes económicos na Europa.
Estes dados são validados ao analisar os indicadores de exportações, importações e transporte nacional. No primeiro caso, atendendo aos números dos quatro principais destinos das mercadorias portuguesas (França, Itália, Alemanha e Espanha) apenas se registou uma descida significativa nos números do mercado francês, com 32% menos que em 2019. Descidas moderadas em Itália e Espanha (-7% e -10% respetivamente) e aumento de 15% nos fluxos com a Alemanha, uma situação excecional, tendo em conta as circunstâncias.
No que diz respeito às importações, apenas desceram relativamente a 2019 as provenientes da Alemanha (menos 14%), tendo aumentado nos outros três países, até 19% no caso de Itália, 12% para Espanha e 7% para França.
Relativamente ao transporte doméstico, as cargas que têm como origem e destino Portugal durante o mês de março, o mais duro da crise, detetou-se uma ligeira mas sintomática viragem de 1%. Dados que transmitem esperança e que nos permitem vaticinar uma recuperação total nos próximos dias.